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3 de janeiro de 2014

Balanço de 2013 - mau para Portugal e UE 




O ano de 2013 não pode ser para esquecer, porque foi mau de mais para a maioria dos portugueses, afligidos pelo desemprego, as reduções de salários, pensões e prestações sociais, pelo desinvestimento do Estado na educação, na saúde, na ciência e inovação, na segurança nacional - enfim, pelo resultado da governação ultraliberal, contra o povo e a favor do capital especulador, que caracteriza  a política mais troikista do que a Troika da dupla PassosCoelho/Paulo Portas. 

Um ano mais de um governo sempre a superar-se a si próprio na arrogância displicente: de Relvas tardiamente afastado, ao acinte da carta de Vitor Gaspar atirando à cara do PM que toda a política económica estava errada, passando pelo despudor de Portas a demitir-se irrevogavelmente  para, na volta, aportar a vice-PM. Um Governo que acaba o ano a ultrapassar-se naincompetência   - com o último chumbo no Tribunal constitucional, o inexequível OE para 2014 ainda não entrou em vigor e já precisa de ser rectificado...

Na mensagem de Natal, o chefe deste Governo quis brindar-nos com um número de malabarismo. Mas os números que contam e de facto arrasam o país são as exportações de pais, mães e filhos forçados a emigrar; é a vertiginosa baixa da natalidade que ameaça não apenas a sustentabilidade da segurança social mas a própria nacionalidade; é o aumento obsceno das desigualdades, num ano em que 25 familias amealharam lucros fabulosos, enquanto milhares de outras empobreceram, sacrificando indelevelmente idosos e crianças e pondo a taxa de suicídios a crescer...

Não há dinheiro, espalham os propagandistas do Governo, para semear o conflito entre gerações e justificar a demolição do Estado social e o assalto aos pobres e classe médias. Mas o Governo não vai atrás dos que fogem ao fisco e se abrigam em offshores, não cobra impostos aos fundos imobiliarios, não toca nas rendas excessivas, não exige execução das contrapartidas dos submarinos, pandures e outros contratos de defesa, deixa impunes os corruptos dos BPN, SLNs/Galileus, das PPS e dos Swaps... Não há dinheiro porque a reforma do Estado não se fez, nem se faz, com um Governo que gere, dolosa e danosamente, os activos do Estado, contra os contribuintes mas para favorecer interesses privados, violando o direito europeu  e a própria segurança nacional, como ilustra o escândalo dos  Estaleiros Navais de Viana do Castelo...

Sobre isso o PR Cavaco Silva não fala. Nem corta fitas: está lá para aparar todas as que PSD e PP entendam encenar. Está lá para dar corda ao relógio do Dr. Portas: o Presidente sabe que a Europa a mando da Sra. Merkel, sejam quais forem os desvios das metas do défice e a espiral na divida pública, vai querer vender-nos um segundo resgate por programa cautelar, para as patroas e os patrões da Troika não terem de admitir que as políticas austericidas matam em Portugal e enterram a democracia na Europa.

Porque o balanço sombrio em Portugal reflecte o balanço alarmante na  Europa em 2013: as crises na vizinhança espelham a irrelevancia ou a impotência europeia. O último Conselho Europeu - onde 27 chefes de Estado e de Governo não foram capazes de demover a teimosia egoísta e míope da Chanceler Merkel, pondo uma União Bancária coxa atrás de um euro que manca - é demonstrativo de como o próprio projecto europeu está em perigo, insuflando forças populistas, racistas e xenófobas que salivam com as eleições europeias. 

Mas, apesar de tudo, eu tenho esperança na Europa e em Portugal - porque sinto também que se mobilizam as forças precisas para combater o mal. 

Porque vejo os recursos e o potencial extraordinário de Portugal e dos portugueses, com uma capacidade de adaptação e de resistência notáveis  - ilustradas, por exemplo, nos jovens cientistas que teimam em investigar e nos prestigiam mundialmente, apesar de todos os cortes e obstáculos.

E porque sei que em Portugal e na Europa há gente com consciência, que não cala nem esquece as lições da história. Por isso se desunham comentadores à direita, a tentar apoucar  a sintonia da esquerda, em que me incluo, com a palavra e a acção do Papa Francisco. Compreende-se-lhes o alarme: sentem-se atingidos com a crítica  acerada que o Papa tem feito à imoralidade do capitalismo desenfreado e da economia financeirizada.

Por não me conformar, por não desistir, deixo aqui os meus votos de um 2014 cheio de força contra a adversidade e pela justiça, para todos os portugueses que também não desistem de Portugal, nem da Europa.


NOTA: escrevi este texto como base da intervenção no "Conselho Superior" na ANTENA 1 no dia 31 de Dezembro de 2013

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